sábado, 13 de setembro de 2008

Corrupção: Um mal que inviabiliza o Direito!

Corrupção : Um mal que inviabiliza o Direito!

*Por Emerson Lázaro Matos Pires



A cada dia, a sociedade é surpreendida com escândalos envolvendo instituições brasileiras. É inquestionável que vivemos em crônica crise de moralidade. Nossas leis são vastas, descrevem e normatizam os ditos comportamentos legais. Se compararmos Constituição Brasileira com Constituição Norte America ou de outros Países em maior estado de desenvolvimento sócio-econômico, podemos, sem dúvida, afirmar que a nacional é bem mais coercitiva, nada sintética. Sua extensão, provavelmente, reflita a preocupação com a manutenção do estado democrático de direito, com a paz social.

É notória a intensidade com que o Poder Legislativo cria Leis, alguns regulamentos têm sido inclusive acompanhados por mim “aplicabilidade e eficácia”, através dos diversos espaços “midiáticos”. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 e Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 01 de outubro de 2003. O empenho criacionista é imensurável, tanto quanto, a perceptiva de não aplicá-las. Ainda assim, aparecem os críticos, que apontam a necessidade de ajustes diversos, a cada dia.

A fim de melhor explicitar meu parco raciocínio, analisarei, empiricamente, é claro, a problemática do ECA, não só por acreditar na importância da criança e da juventude, como também por estar no centro da altercação nacional, devido ao alto índice de delinqüência juvenil, que assola o país. Não são poucas as críticas e propostas para reformulação do ECA. Diversos segmentos da sociedade brasileira clamam por mudanças, culpam a Lei pelos altos índices de violência e propõe a diminuição da Maior Idade Penal de 18 para 16 anos. Acusam o Estatuto de condescendência com a marginalidade. Considerando que nosso mecanismo prisional tem subjacente uma filosofia medieval de punir o malfeitor, seus internos enfrentam cadeias superlotadas, não existe uma classificação seletiva, habitam o mesmo espaço indivíduos que praticaram crimes de complexidades diversas. Funcionam, assim, como universidade do crime.

Por outro lado, o ECA não foi efetivamente aplicado, já que as políticas públicas para sua implementação não se configuram. Onde estão às políticas de assistência as crianças e adolescentes em situação de risco? E as Instituições para dar suporte à assistência e encaminhamento social à infância e juventude prevista no Estatuto? A diminuição da maior Idade penal condenará jovens pobres e negros à marginalidade. Pois, certamente, os oriundos da classe hegemônica, encontraram, através de seus advogados, dispositivos legais para burlar o sistema. Não se faz necessário descrever como a plutocracia reinante neste país, estrutura a aplicabilidade da lei, onde a estratificação social inviabiliza a relevante cegueira da justiça.
Exatamente, neste momento, o Judiciário baiano está em cheque, investigações acusam, apontam advogados e membros de diversas carreiras jurídicas de envolvimento com vendas de sentenças. Tenho acompanhando a operação Janus, com expectativa de que tudo não passe de um grande engano. É complicado perceber que profissionais tidos, até então, como exemplos de competência estejam envolvidos em escândalos desta natureza. Gera, sem nenhuma dúvida, a sensação de que estamos num barco à deriva. Num país onde o Direto é desconsiderado em sua essência e finalidade. Sendo, por isso, manipulado para defender interesses escusos e corporativistas.
O direito não tem compromisso com a ética, mas com o legal, o constitucional Hans Kelsen (1985). É um dispositivo que regula comportamentos internos e externos do homem. É produto da construção humana, impregnado de subjetividade. A eficiência do sistema jurídico depende da formação integral do homem, da incorporação de valores éticos na formação do educando, seja através da educação informal, exercida pela família e a sociedade, seja através formal, sistematizada, da educação infantil à universidade, onde, verdadeiramente, forma-se profissional de Direito, para atuar nas diversas carreiras.
Tenho visto que nossas escolas impõem aos seus alunos a leitura de O Príncipe, de Maquiavel, não pretendo desmerecer o clássico, tampouco a sua importância para a compreensão sócio-política contemporânea brasileira. O que não compreendo é a inexistência de leitura de obras como a de Jesus Cristo, de Buda e Madre Teresa de Calcutá cujos exemplos incorporariam ao processo de formação valores como alteridade, caridade e outros tantos de que necessitamos para acabar com a chamada mentalidade do “jeitinho brasileiro”, desrespeito ao próximo e às instituições. Em sua grande maioria, o povo brasileiro é honesto e trabalhador. O que torna injustificável esta nuvem de crimes, de corrupção e “de hipocrisia que teima em nos rodear”. Disto depende o futuro do Brasil, que, de Cabral à Globalização, vem enfrentando a problemática da falta de ética, de moralidade, nas diversas esferas dos poderes constituídos, ao longo de seu processo sócio-histórico.


* Aprovado no Processo Seletivo. UNEB, 2008.2 Campus XlX- Camaçari – Bahia.

6 comentários:

Lai disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lai disse...
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Lai disse...

É nesse contexto que temos que refletir e perceber qual é o nosso papel, enquanto estudantes de Direito, pois somos a esperança de muitos.
O Judiciário está desacreditado... É notória a inacessibilidade da JUSTIÇA para quem precisa dela, com exceção dos que têm dinheiro(sinônimo de poder)e conseguem dar um "jeitinho".
Temos que fazer o diferencial! Essa semana ouvi muitos comentários a esse respeito da operação Janus... E me entristeço a cada dia por ver tanta discrepância entre seres humanos. Uns com tanto e outros com quase nada... O mesmo aplica-se à justiça... uns conseguem alcançá-la...outros nem sequer sabem o que é. E quando um caso desses(que infelizmente não faltam exemplos todos os dias)começa a ser julgado pouco tempo depois "termina em pizza".
Creio que podemos, fazendo cada qual um pouco, mudar essa realidade triste e alarmante, e trazer para o Brasil ao menos um pouco menos de desigualdade social. Fazer com que quem realmente precisa do Judiciário tenha acesso a ele. Nós, como advogados, promotores, juízes... temos o dever de possibilitar que a população tenha seus direitos assegurados e suas necessidades sanadas!

Emerson Pires disse...

Lai,
Tudo bem?
Preliminarmente, expresso o meu contentamento por sua criticidade e mais, por você também pensar desta forma. Há uma cultura, falácia de que os estudantes de DIREITO só pensam em “se dar bem”. Na verdade, urge que ocorram mudanças profundas na mentalidade “brasileira”. Aqui, tudo funciona bem para os poderosos: a EDUCAÇÃO reproduz a desigualdade, é comprometida com a manutenção do Status, cada um em sua castra; acesso a SAÚDE considerado bem de consumo, como a casa própria e outros serviços necessários ao bom exercício de ser cidadão! Com o DIREITO, dentro deste sistema complexo de ostracismo, não poderia ocorrer diferente. A crise moral que me reporto contamina todos os setores da vida nacional. Sem dúvida, nós, os considerados cabeças pensantes, temos maior grau de responsabilidade, embora não abra mão de afirmar que mudar o estado agonizante das Instituições brasileira é compromisso de todos. Afinal, a melhor forma de aprendizagem é através da vivência. Sociedade precisa discutir os rumos deste país com a mesma intensidade que comenta partidas de futebol e programação alienante da rede globo, pois quanto mais do povo, mais se sofre nesta Nação.

Abraço grande

Émerson

Laiara Lacerda disse...

Olá...gostei mto do texto..

Emerson, vc escreve mto bem..

outros pontos foram comentados, mas o q eu gostaria de comentar foi a citação q vc fez sobre a leitura de Maquiavel e nao de obras que afloram os "bons costumes". Penso que, independente de religião, a vida de Jesus é exemplo a ser seguido e que está sendo banido das escolas( se ja nao foi por completo). Ouvi, certa vez, uma conversa de professores do ensino medio de camaçari que comentavam o "para que?" de ter religião e defendiam a retirada dessa materia e incorporação de mais aulas de "ARtes". Agora, me digam, o que "artes" traz de construtivo p/ moral dos alunos? Eles responderam q essa materia "acalma" eles. Entao a religião que se ensina, se ensina mto mal!!!! E a leitura de obras como a de Madre Tereza e até de grandes homens, como MArtin Luter King, são totalmente deixadas de lado. E onde se encaixa o aluno de Direito nisso??? O aluno nao sei, mas o profissional, creio eu, tem grande influencia na sociedade e, se quiser, pode providenciar mudanças, nao so de grandes revoluções sociais, mas de aprimoramento do ensino., pq das salas de Direito sairão adbogados, desembargadores, juizes..mas tb sairão professores.

Laiara Lacerda

Emerson Pires disse...

Laiara Lacerda!

Tudo bem com você? Obrigado pelo incentivo!

Acredito na construção coletiva do texto. Agradeço a sua participação, sobretudo, quando cita “Martin Luter King” e o ’independente de religião”, pois lutar com palavra é complicado, pois elas fogem de nosso controle, é como usar uma arma que não se tem, efetivo, domínio. Além da Memorável personalidade que citou gostaria de acrescentar que também os Mitos oriundos da religiões africanas fornecem exemplos que colaborariam com esta formação do homem integral. Assim, espero ter afastado a nuvem etnocêntrica do meu texto.

A arte é de fundamental importância no processo de formação educacional, sobretudo, nas primeiras fases do processo de escolarização do homem. Ela proporciona aquisição de habilidades psicomotoras e também o desenvolvimento da habilidade de confecção e leitura de textos não verbais, que são fundamentais para sobrevivência na sociedade contemporânea.

A formação do homem integral otimizará o desempenho de todas as profissões, inclusive, a de estudante. Um homem cuja a formação é fundamentada em valores como a caridade, alteridade, etc... trabalhará, sempre, para a construção de um mundo, país, cidade onde haja vigilância em prol da dignidade da pessoa humana.

Émerson